Essa delícia, que experimentei pela primeira vez em Buenos Aires, subiu à tona em minha memória quando me deparei com a receita da chef Carole Crema, no Caderno de Comida da Folha. É também deliciosa, mas diferente da que me encantou no requintado café da cidade portenha.
Quando entrei no Café Tortoni pela primeira vez, no final dos anos 70, a atmosfera um pouco sombria evocou imagens das tertúlias literárias vividas naquele espaço, lideradas principalmente pelo escritor Jorge Luis Borges. Lembro-me de ter me sentado à mesa e pedido um submarino, que consistia num leite quente com uma barrinha de chocolate. Quando mergulhada no lpiquido quente, derretia-se deliciosamente.
As mesas de madeira escura, com inúmeras camadas de verniz, espelhavam minha xícara e o recém comprado livro de contos: “O Aleph”. Aquelas letras evocavam bibliotecas fictícias, labirintos e sonhos que me levaram a sorver a bebida. Durante a leitura, eu espiava pelos espelhos de vidro bisotado na espera de ver refletido neles Borges com Ernesto Sábato falando sobre romances e contos. Não pude ver nenhum deles, mas o conto “O Aleph” e o sabor da bebida ainda estão impressos nas lembranças.
Buenos Aires é uma cidade que rescende à literatura e poesia através de seus cafés e ambientes onde os poetas se sentem em casa. Essa receita para mim é um mergulho nesse espaço envolvente ou também pode ser uma aconchegante bebida para esses dias frios.
“Apesar da chuva eu tenho saído
para tomar um café. Estou sentado
sob o toldo tirante e empapado
de este velho Tortoni conhecido.”
(escritor e poeta Baldomero Fernández Moreno)
Ingredientes
- 1 colher (chá) de rum ou conhaque (opcional)
- 70 gr de creme de leite
- 6 palitos de madeira
- 1 xícara de cappuccino 3 corações de sua preferência
- 150 gr de chocolate amargo de cobertura (faça um pouco de raspas para envolver o submarino)
Modo de Preparo
Derreta o chocolate no micro ou em banho Maria. Acrescente o creme de leite, o conhaque (ou rum) e misture bem. Depois, leve para a geladeira e deixe por aproximadamente 3 horas.
Faça bolinhas um pouco maiores que um brigadeiro. Espete no palito e passe nas raspas. Deixe mais um tempo na geladeira. Para servir, mergulhe no cappuccino bem quente e delicie-se!
Após uns meses relapso, fui numa quarta-feira ao endocrinologista, que, com um sorriso, sentenciou:
– Você está com câncer de intestino ou intolerância à lactose.
Sai do consultório, como poderia dizer, mudo.
E mudo arrumei as malas na quinta à noite. Na sexta, fui, direto do trabalho, para o aeroporto, com destino à capital portenha.
E lá, como não poderia deixar de ser, passei no tradicionalíssimo Café Tortoni. Já tinha esquecido do médico, então tomei o churros com doce de leite, além de um café (servido com leite), além de experimentar o submarino que meu amigo que me acompanhava havia pedido.
E fui dar uma volta. Mais à noite voltaria para uma apresentação de um show de tango. Excepcional.
Andando perto do Obelisco, comentei com o amigo que me acompanhava: "você sabe o que é a síndrome do intestino irritado?", "Não", ele respondeu, e eu complementei "pessoas com intolerância à lactose sofrem disso, mas também pode acontecer em pessoas com câncer no intestino" e lá fui eu, irritado, mas semi-feliz depois de constatar que era realmente intolerante à lactose, procurar um lugar para cumprir a meia-profecia do médico.
Voltei para o hotel, e meu amigo, que até então não sabia de nada, me animou a irmos ao show de Tango.
E, para comemorar a boa nova e "limpar" a alma, tomei uns goles de Fernet – bebida amarga, típica, durante o show. Não sei se foi a mágica do Fernet, mas o show de tango do Tortoni foi especialmente doce para mim, para as moças inglesas que se sentaram com meu amigo, para a família venezuelana que tratava de pedir informações turísticas do Brasil comigo, e consumiu duas garrafas de vinho durante o show.
Então, ao ler o post da Stella, fiquei pensando se ela não poderia criar um drink de café com a tal da bebida. Amarga, argentina, transparente (era? estava escuro…) contrastante com o preto do café, com o doce do aroma.
Comentário pra lá de mal escrito… risos… mas passou a ideia. Não se deve escrever durante a madrugada…
Tudo bem Ricardo? Não, nada mal escrito seu comentário, pelo contrário, colocou-me imediatamente no clima em que você descreve.
Gosto de sua escrita espontânea, e o Fernet, reabilitado em meu paladar, hoje mais habituado aos amargores, é uma ótima idéia para drinks. Era uma das bebidas preferidas de meu pai, e ele sempre adicionava um tantinho no café.
Obrigada, Ricardo pela dica e pelas recordações que suscitaram. Prometo um post sobre a bebida no próximo mês.
Abraços,
Stela.
Oi pessoas!!!!
Alguém pode me ensinar como toma o submarino????
Bjus
Olá Lara!
Submarino é o nome dado à bolinha que vai dentro do cappuccino desta receita.
Quando se coloca na bebida quente, ela derrete e fica pronto para beber.
Era essa sua dúvida?
Abraços.
pode-se colocar outra bebida-licor por exemplo, no lugar do rum, não é?
Olá Laura, tudo bem?
Pode trocar a bebida sim por, por exemplo, o conhaque.
Nos conte o que achou da receita, ok?
Beijos, obrigado pela visita.