Pudim de tapioca com café

Como todos sabem, o sabor carrega um bocado de sentidos: sons, cheiros e emoções vão junto no mesmo pacote. O gosto de coco queimado me leva direto para areias de Itapuã, com direito a trilha sonora de Caymmi e perfume do mar. Às vezes, fico um pouco saudosista quando percebo que certos paraísos da minha infância e juventude se transformaram em formigueiros urbanos. No final dos anos 60, eu era adolescente e sempre passava as férias em Ubatuba, que era a minha Bahia. Tínhamos uma casa na praia do Tenório, aliás, uma das duas únicas da praia na época; e nos deliciávamos com a efervescente música brasileira da época.

Em qualquer das inúmeras praias (acho que são 75) sempre tinha alguém com um violão. Em algumas ocasiões, havia cuíca e atabaque numa roda de cantorias e parecia que o mundo era habitados só por jovens cantores. Apesar do pesado bafo dos tempos da ditadura, quando lá estávamos nas areias torradas pelo sol ou iluminadas por milhões de astros e estrelas, éramos felizes e tínhamos certeza que mudaríamos o mundo para melhor entoando nossas canções de amor e protesto. Muita coisa melhorou, no entanto minhas praias desertas, as Itapuãs dos sonhos hoje são apenas ícones na memória.

E para você? O que o sabor do coco queimado lhe suscitará?