Essa invencionice da culinária mineira é de lamber com os olhos. O arroz fica empapado, molhadinho, quase um risoto sertanejo. Como eu sempre digo, a receita é uma obra aberta. Tem quem coloque pimentão picado, ervilhas e o quiabo no próprio cozido. O que não pode mesmo faltar é a galinha, o arroz e o açafrão da terra (colorífico). Melhor que fosse a caipira, tão difícil de achar em São Paulo.

Quem me ensinou a cozinhá-la foi a Cléo, Cleonice, cozinheira muito guapa, de mãos cheíssimas de talento para qualquer quitute, que trabalhou por muitos anos comigo. Quando ela ia de férias para sua terra natal, Caeté (MG), voltava  cheia de causos e uma galinha caipira.  Ela escolhia uma bem gordinha no terreiro da roça de seus pais e pegava o ônibus de volta.

Era o tempo de depena-la, embrulhar junto com um saquinho de gelo e coloca-la num isopor. Acho que algumas pessoas ficarão horrorizadas com o relato, mas aposto que essas danadas  tiveram uma vida bem melhor que aquelas que nascem, crescem e morrem nas granjas antes de glorificar nossos paladares.

E foi assim que aprendi a fazer o regalo. Todos os anos o ritual se repetia e, nos últimos em que ela trabalhou comigo, eu já a aguardava com os ingredientes prontos para repetir a façanha.

Mas você deve fazer do seu jeito. Se preferir, escolha as partes mais queridinhas. Nesta que preparei para o Mexido, usei coxa, sobrecoxa e peito. Com galinha inteira ou não, o prato é delicioso.

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