Arroz de coco com espresso

Como dizem as páginas do mestre jornalista Câmara Cascudo, “com leite de coco, come-se areia”! Essa frase é certamente recolhida de nosso ideário popular colonial. Trazido de Cabo Verde pelos portugueses, o leite do fruto chegou primeiro à Bahia e se espalhou por toda costa brasileira.

Segundo Cascudo, a primeira denunciação da utilização do leite de coco foi do missionário dominicano Frei João dos Santos, que observou preciosamente sua utilização em terras africanas. “Do miolo do coco fresco se tira leite com que cozem arroz, ralado com um ralo bem lavado em duas ou três águas, e espremido entre as mãos, de modo que lhe façam lançar toda umidade que tem. E d’esta maneira fica com o coco tão seco e miúdo, como farelo de pau, e pelo contrario a água em que foi lavado fica tão grossa, que se parece leite de vacas muito alvo, ou de amêndoas, e com essa água se faz o arroz de leite tão bom que fica mais saboroso que pudera ficar, se fora cozido em qualquer outro leite” (Trecho retirado da obra “Etiopia oriental”, editado em Évora em 1609, do próprio Frei João).

Minha primeira memória do tal arroz salgado é bem mais recente, lá pelas tantas da década de 1960. Apesar de já existir leite de coco industrializado, minha querida Tia Mira insistia em ralar o coco e passar diversas vezes pela peneira com água quente, para tirar-lhe o leite. Era uma diversão, espremer as raspas do coco com minhas pequenas mãos e verter dali o precioso leite.

Quando acompanhei as índias da aldeia Kuikuro no Alto Xingu, ralando a mandioca e passando pela peneira, essa habilidosa função lembrou-me o fazer do leite de coco. Hoje, é possível produzir a iguaria com liquidificador e peneira, sem muita habilidade. Quem quiser fazer a receita com leite de coco natural, terá que ir à feira mais próxima. Lá, o coco é ralado na hora e em supermercados, eles são vendidos inteiros.

O espresso e o frango foram minhas atualizações da receita. É uma deliciosa refeição completa.