Nosso encontro já estava marcado há um mês. Destino: Saint Romain le Puy, uma cidade que acolhe cerca de 3.500 habitantes em seus 21km². Sim, ela é tão pequena que pode passar despercebida pela linda paisagem das redondezas.
Enquanto me preparava para o humor ranzinza tão conhecido dos franceses, houve a surpresa: gentileza e muito bom humor foram meus anfitriões durante a visita. O proprietário da Couleur Café, o iraniano Massoud Maghsoudian, torra em seus 80m² cerca de 18 toneladas de café por ano, oferece produtos de 15 países diferentes e mais 25 blends para completar sua oferta na região. Peru, Galápagos, Kenia, Etiópia, Sumatra estão entre as nacionalidades de grãos que ele estoca e protege do frio em seu armazém. Para meu espanto, o grão de café brasileiro que ele teve tanto prazer em me apresentar era proveniente de que estado? Se você, meu caro, respondeu Minas Gerais, muito se engana. São grãos da Bahia! Para minha surpresa maior, Massoud nunca ouviu falar do café mineiro! De acordo com o pequeno empresário, há uma dependência muito grande de intermediários. Ele não consegue trazer sacas de diferentes partes do Brasil em pequenas quantidades, o custo é muito alto. “Tenho vontade de conhecer e negociar diretamente com pequenos produtores brasileiros, mas ainda não vale a pena”, explica.
Senhor Massoud verificando a torra enquanto os grãos esfriavam. O cuidado e carinho com o café realmente inspira.
O desejo de conhecer a fonte dos produtos existe e ela foi possível com o café do Peru. Foi lá que ele conseguiu localizar um cafeicultor e viabilizar o comércio com preços justos entre os dois países. Mesmo com uma produção pequena, ele tem a preocupação em vender um produto que seja orgânico e que respeite as leis de trabalho. “Se polui ou explora, não me interessa. O comércio deve ser justo para todas as partes envolvidas”, fala veemente. O certificado Certifié Agriculture Biologique garante que seus cafés respeitem o meio ambiente nos países produtores e que paguem salários justos para a mão-de-obra dos cafezais.
Outro exemplo de cidadania é a loja que vende produtos de seus colegas artesãos, ali no mesmo prédio em que a torrefação acontece. Cerveja, sopa, chocolate, frutas secas e sucos orgânicos podem ser comprados juntamente com o café. “Procuramos sempre ajudar uns aos outros. Quem precisa de cerveja ou sopa certamente precisará de café em algum momento do dia. Esta parceria colabora para reduzir os custos de transporte e marketing”, conta.
Despida de luxo, a lojinha que vende produtos de outros artesãos é sucesso na região.
Massoud se classifica como artesão do café, sabe “nome e sobrenome” de cada saca que divide o pequeno espaço de seu armazém. Foi ele, pessoalmente, que me apresentou grão por grão, falou da acidez, sabor e história de cada blend sem pestanejar. Enquanto escutava atenta em meio ao francês falado de forma entusiasmada, aprendi a me apaixonar ainda mais pelo café. Foi pelos olhos de quem sabe o que faz e depende daquilo para sobreviver que entendi a importância de cada detalhe e ainda anotei em meu bloco de notas uma lição importante: “O amor pelo que se faz é o mais importante, o resto é conseqüência. Se você é um apaixonado, a busca por conhecimento e inspiração por inovação surgem naturalmente”, conta Massoud com um sorriso largo.
Se você quer um pouco mais do bom humor do senhor que me recebeu tão bem, fica aqui o convite para um tour virtual na empresa de torrefação Couleur Café em nossa página do facebook. E para quem estiver na França, este é um lugar que merece uma paradinha para o café.
Pose para a foto: o bom humor sempre presente.
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