Quando o noticiário indica queda de temperaturas, o brasileiro só consegue pensar em duas coisas: filminho e agasalho. Imagens de finas camadas de gelo e temperatura beirando os 2ºC em estados do sul do Brasil dão uma sensação de friozinho na espinha, seguida pelo conforto de estar bem quentinho em casa. Não é bem assim que funciona com os cafeicultores. Este friozinho na espinha é seguido de muita preocupação e possíveis prejuízos dependendo de onde está localizada a plantação.
A memória de grandes produtores de café no Brasil ficou marcada por uma sequência de geadas devastadoras entre os anos de 1902 e 1994. Entre perdas nesse período, foram registradas geadas brancas e geadas negras. Você sabe a diferença? Geralmente seus tipos são caracterizados em função de sua aparência. A geada branca é denominada com a composição de gelo sobre as plantas (o que dá a cor branca sobre a vegetação). Dificilmente ela provocará danos para plantações mais tolerantes, pois embora a água congele a 0ºC, a temperatura letal pode estar bem abaixo deste valor.
Já a geada negra representa um pouco mais de perigo para as plantações. Ela ocorre quando o ar está muito seco e a planta chega a morrer antes da formação de gelo ou congelamento do orvalho. No Brasil, ela vem acompanhada de ventos gelados que desidratam os tecidos expostos da planta (folhas, caule, frutos e flores). Por ser uma constante vítima de geadas, o estado do Paraná tem um instituto que mantém um serviço gratuito de alerta para todo o Estado: o IAPAR.
Historicamente, fortes geadas atingiram seriamente os cafezais nos anos de 1902, 1918, 1975 e 1994, diminuindo consideravelmente a produção nacional de grãos de café. Mas o setor cafeeiro nunca se esquecerá da intensidade dos danos no ano de 1975. O ápice da geada foi nos dias 16, 17 e 18 de Julho quando a Geada Negra erradicou a cafeicultura no Estado do Paraná. Com isso, a produção que já era insuficiente para atender as exportações e consumo interno atingiu o menor nível do século. Isso foi um choque para produtores que ostentavam a cidade de Londrina como “capital mundial do café”. Depois do “desastre natural” toda a produção estava devastada sem chances de recuperação. O que geralmente não acontece em outras geadas, as quais atingiam somente algumas áreas e permitiam que os pés de café rebrotassem, a geada negra foi destruidora e torrou o pé de café das folhas até a raiz.
O Norte do Estado amanheceu, literalmente, coberto por uma mancha negra, que rapidamente se decompôs sob os raios do sol. Tudo o que era verde morreu – não apenas o café, mas toda a vegetação que recobria a região. O trauma foi tão grande que os agricultores substituíram o café pela soja e trigo, preferindo as lavouras mecanizadas e dispensando toda a mão-de-obra necessária que antes cultivava o café.
De acordo com jornais da época, este foi o momento que mais se mecanizou a agricultura no Paraná. No segundo semestre de 1975, a Transparaná (uma das principais revendedoras de maquinário agrícola) bateu recorde nas vendas de tratores. Este foi um dos motivos do rápido crescimento de Londrina, que se transformaria num dos mais importantes municípios do Sul do Brasil nas décadas seguintes.
O interessante de toda esta história é que da crise, nasceram outras possibilidades de crescimento. Este é o nosso Brasil!
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