Amanheceu.

Ainda na cama, o quarto escuro, mal consigo abrir os olhos. Imagino que outras pessoas estejam na mesma situação e queiram aproveitar apenas cinco minutinhos a mais debaixo da coberta. Outras, provavelmente, levantaram de supetão, ao toque do despertador. Penso ainda em quem já está de pé há horas, aqueles que levantam no amanhecer ainda escuro, por volta das 4h da matina, quando ouvem o galo cantar. Não importa, para todos, é um novo dia. Hora de tomar coragem e encarar o que vem pela frente.

Levanto e, com passos preguiçosos, vou até o banheiro lavar o rosto. Olho no espelho e começo a conversar com meu reflexo sobre todas as coisas que preciso fazer durante o dia. Morar sozinha tem dessas coisas, na falta de alguém pra conversar, o espelho torna-se o melhor amigo. Mal saí da cama e a cabeça já à mil. Percebo que as muitas tarefas se alternam entre responsabilidades no trabalho e o dia a dia em casa. Olho no relógio: estou atrasada.

Correria.

Vou pro banho, mudo a roupa ao mesmo tempo em que faço uma lista mentalmente. Consigo ver em verde um ou outro visto do tipo ‘check’ em cada tópico e inúmeros outros em vermelho. É preciso tirar a roupa de cama e banho e colocar pra lavar, dar comida e trocar a água dos gatos, três, diga-se de passagem. Limpar a areia, colocar a casa em ordem, tudo em tempo recorde. Ao mesmo tempo, penso que ao chegar na agência preciso organizar ‘um mundo’ de informações.

Um café. Preciso de um café.

Coloco a água pra ferver, preparo o filtro de papel na garrafa térmica, acrescento bastante pó de café e aguardo – é, não tenho cafeteira, faço no modo antigo e caseiro mesmo. Enquanto isso, converso com os filhotes que passarão o resto do dia à minha espera.

Com a água ainda borbulhando na leiteira, despejo-a sobre o pó. O cheiro invade a cozinha e manifesto o meu primeiro sorriso do dia. Sirvo uma xícara e sento à mesa. Olhando a fumaça, me lembro de todas aquelas pessoas em quem pensei pela manhã: o rapaz que levantou atrasado ao toque do despertador, o trabalhador que já estava de pé no amanhecer ainda escuro, nos que, como eu, só queriam um tempinho a mais na cama. Todos devem estar fazendo o mesmo que eu nesse momento, penso. Tomo um gole de café e volto a sorrir sozinha.

Agora sim, acordei. Bom dia.

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