O Mexido de Ideias enriquece cada vez que um leitor participa com comentários, dicas e informações. Este espaço é para isso mesmo, mexer as ideias e os cafés de nossas xícaras. Já publiquei, por exemplo, uma dica muito boa de leitura enviada pelo leitor Ricardo Augusto Serapião e hoje damos espaço para o Manoel Amaral.
Ele nos enviou uma crônica sobre suas experiências com o café e até divide um receita durante o texto. Ficamos tão felizes com este presente, que decidimos dividir com vocês.
O MEU CAFÉ
“Para alguns, uma pequena xícara contendo o néctar negro com espuma de ouro é um meio de sobrevivência”. (Tia Odacir)
Cinco horas da madrugada, levanta cambaleando, tropeçando nos móveis, quebrando o dedo mindinho no sofá da sala. É hora de ir para o trabalho. O seu tio Osmair já está lá há um bom tempo, passando o café: duas colheres de pó, quase um litro d’água, três colheres de açúcar. Fogo aceso aguardando as primeiras fervuras. Nunca deixa a água ficar muito tempo ao fogo. Se ficar, o café fica mais amaro.
As lembranças vão e vêm. Lembra-se da vovó Odair lá no sertão de Goiás, nos fins da década de oitenta, quando ainda era criança. Bodoque (estilingue) na mão, ir para o mato caçar passarinho. Banho no ribeirão, pular corda, chicotinho queimado e esconde-esconde. Sem contar as intermináveis manhãs soltando papagaio (pipa) lá no pasto, sem nenhuma moto ou fios de rede elétrica para atrapalhar. Até que viesse uma rajada de vento e pronto. O papel e linha engaranhavam naquelas árvores lindas que já não existem mais…
Café é estimulante, traz boas lembranças. Os políticos não podem nem pensar no café. Eles saíram bem cedo de fazenda em fazenda, não tinham garrafa térmica. Quando o candidato chegava, era café que não acabava mais, requentado. O que salvava a situação eram os biscoitinhos cozido, escaldado, sequinho, bolos de fubá e aquele de amendoim. Uma infinidade de iguarias no meio do sertão. Tinha até um bolo com nome engraçado: o tal de Mané Pelado (?) feito de mandioca (aipim). Passavam até a receita pra gente:
Bolo Mané Pelado
Ingredientes
900 gr de mandioca ralada fina
1 xícara de queijo Minas ralado
3 colheres (sopa) de margarina
2 colheres (sopa) de óleo de soja
4 ovos
2 xícaras de açúcar
1 vidro de leite de coco
1 xícara de coco ralado
Modo de Preparo
Esprema a mandioca para retirar um pouco da água e reserve. Bata os ovos inteiros até espumarem e reserve.
Misture o queijo, a manteiga e o óleo na mandioca. Na sequencia, adicione o açúcar e bata de novo. Adicione os ovos batidos, o leite de coco e o coco ralado e mexa bem até misturar todos os ingredientes.
Unte uma forma de bolo com margarina e enfarinhe. Asse o bolo até começar a dourar.
Lá o mato, tem todo tipo de receitas naqueles velhos cadernos das vovós. Agora não tem graça, está tudo na internet. Naquele tempo, aqueles livrinhos eram um tesouro e passavam de mão em mão.
Gostou? Envie sua colaboração, dicas e informações também. Ajude-nos a deixar nossa xícara mais completa.
Muito rica a crônica,remete o leitor a uma gama de sentimentos e situações.:da delícia do café, passando pela política, pela nostalgia poética da mudança de tempos e até pela receita de um bolo de nome engraçado.Por melhor que seja o bolo, com certeza não será melhor que essa crônica, fantástica adorei.!
Cara Conceição,
Você por aqui, adorei o seu comentário.
Como sempre os melhores.
Estamos planejando um livro, aguarde.
O autor
Manoel Amaral
Muito bom!!!
Incrível! Amei a crônica.
Estou verdadeiramente fascinada!!